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A Revolução da Maratona Feminina
Eleonora Mendonça | arquivo pessoal

A Revolução da Maratona Feminina

Silvia Herrera

Silvia Herrera

Pesquisadora cinematográfica Estúdios Globo e corredora amadora

No celular, é possível checar a evolução dos treinos, conversar com o treinador, escolher sua primeira maratona e comprar a inscrição. Mas há 50 anos isso era impensável para as mulheres. Além da falta de tecnologia, correr 42.195 metros era considerado fatal para o gênero feminino. E uma brasileira teve papel fundamental para virar esse jogo.

Hoje ninguém duvida que correr faz bem. Dados indicam que correr 40 minutos diariamente amplia a longevidade, retardando o envelhecimento celular. Não é preciso nem correr uma maratona para ter esse benefício. Basta ter regularidade.

E antes da comprovação científica, a carioca Eleonora Mendonça já tinha certeza que correr fazia bem. Atleta do tênis do Fluminense, uma lesão no joelho a levou para o atletismo no mesmo clube. Só que nos anos 1970, a distância mais longa permitida a uma mulher na olimpíada eram os 800m. Após se formar em Educação Física, ela foi fazer mestrado em Boston (EUA), meca da corrida de rua. Lá entrou para o Comitê Internacional de Corredores, se tornando a presidente em 1979.

Até os anos 1970, a alegação “científica” era que o esforço de correr longas distâncias seria mortal para a mulher. No entanto, um artigo do American College of Sports Medicine, publicado em 1980, negava que corridas de rua de longa distâncias seriam prejudiciais para as atletas mulheres. E sugeria que as atletas mulheres deveriam ser permitidas a competir as mesmas distâncias que os homens já competiam.

Depois de muita pressão, em fevereiro de 1981 o Comitê Olímpico Internacional reviu as regras, ampliando para 3.000 metros a distância permitida para a categoria feminina. E liberando, para a Olimpíada de 1984, a inclusão da categoria feminina na maratona. Prova que foi realizada pela primeira vez em Los Angeles (EUA), em 5 de agosto, no 23º Jogos Olímpicos.

Eleonora atuou muito nos bastidores para que as mulheres vencessem essa luta, e foi a representante brasileira nessa maratona histórica. As maratonas de Nova York e Boston começaram a aceitar mulheres antes disso, nos anos 1970. Mas faltava a benção olímpica. Eleonora também trouxe o modelo de maratona que via em Boston para o Brasil, ela organizou a primeira Maratona do Rio, em julho de 1979. Na Olimpíada, ela finalizou com 2h52m19s, na 44ª posição, e última a cruzar a linha da chegada. Foram no total 50 atletas de 28 países. Uma vitória para todas as mulheres do mundo!